sexta-feira, novembro 17, 2006

O Tio Bill e o Dinheiro dos Outros

Escrito por Ricardo Amaro
Quinta, 02 Fevereiro 2006

ImageUm plano tecnológico marquetizado.

Lisboa, dia 1 de Fevereiro de 2006. O longo e tão marquetizado evento inicia-se. Na plateia vários nomes sonantes ao nível governamental e europeu para ouvir Bill Gates, tais como: Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia; Pat Cox, ex-presidente do Parlamento Europeu; Siim Kallas, comissário europeu e vice-presidente para assuntos administrativos, anti-fraude e auditoria; Lucio Stanca, ministro da Inovação e Tecnologia italiano; António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados; e Patricia Botín, presidente do Banesto, são alguns dos intervenientes que foram acompanhados por altos quadros da Microsoft, incluindo o próprio Bill Gates. Do lado do Governo, houve intervenção do ministro da Administração Interna, António Costa, do ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, do ministro da Ciência e Tecnologia, Mariano Gago, e do primeiro-ministro José Sócrates.

A riqueza actual de Bill Gates não é novidade para ninguém, mas o que talvez surpreenda muitos é que a sua riqueza e a natureza do seu negócio não foram palmilhadas a pulso e suor como querem fazer crer. O pequeno Bill começou já com um milhão de dólares cedido pelo seu avô que era vice-presidente do Banco Nacional Americano. As negociatas históricas nunca foram completamente licitas e sempre se regeram por técnicas capitalistas agressivas de “takover”, “buyout”...

ImageA Microsoft apareceu em 1975, quando Bill Gates e Paul Allen, na altura estudantes, conseguem convencer, o fabricante dos microcomputadores Altair, de que tinham criado um sistema de programação em BASIC para essas máquinas(*1). Facto é que ainda não o tinham efectivamente desenvolvido e, após oito semanas, acabaram por vender um versão de BASIC “baseada” no sistema inventado em 1963 por John Kemeny e Thomas Kurtz. A linguagem BASIC, assim como o sistema UNIX ou a linguagem C são considerados elementos de estudo nas mais diversas Universidades à volta do mundo e o seu código tende a ter um base de desenvolvimento livre, mas ao fechar o acesso a esse mesmo código, bem como a liberdade de o partilhar e modificar, empresas como a Microsoft estão a “roubar” propriedade intelectual que é de toda a humanidade em proveito próprio. E assim se faz uma grande multinacional, e assim se cria o homem mais rico do mundo.

No seu discurso em Lisboa(*2), Bill Gates não acrescenta nada de novo ao desenvolvimento tecnológico mundial. Apenas consegue congregar numa sala adeptos e fãs que não perseguem nenhuma fonte visionária para o sucesso do mundo informático, nem nenhuma solução milagrosa de como resolver a pobreza mundial, mas sim uma fonte de inspiração de como enriquecer á custa dos povos. Incluindo o facto de ter criado uma fundação para espiar os seus "pecados", e que não mais é do que a aplicação de uma pequena parte do seu capital com o objectivo claro de limpar a sua imagem. Basicamente, existe um pensamento na maior parte das pessoas que assistem a este tipo de conferências: “Ele é rico e eu também o quero ser. Qual o segredo do seu sucesso?”. Não há nada de novo nisto, sabemos bem, mas o peculiar a desmascarar é que a própria imagem de Marketing criada á volta do nome “Bill Gates”, só por si, vende milhares de licenças de software, sem qualquer tipo de suporte extra e na maior parte das vezes é um péssimo software.

O Governo Português, nomeadamente o PS na figura de José Sócrates, está a deixar, á semelhança do que fazia o governo PSD, que esta multinacional ganhe terreno e se enraíze neste pequeno pais á beira mar plantado, melhorando a sua imagem política e defendendo-se da multa de 497,2 milhões de Euros aplicada pela União Europeia (UE) à Microsoft por práticas anti-concorrência. A abertura às marcas concorrentes do sistema operativo Windows foi outras das imposições da UE.

ImageNo resto da Europa o governos tentam aproveitar o Software Livre para se tornarem independentes de qualquer controlo externo. Parece que Portugal anda ao contrário daquilo que faz mais sentido como base de independência nacional. Vejamos os casos da Espanha, Inglaterra, Alemanha, França onde o Software Livre (e não falamos só de Linux) está a ser implementado até nas instituições mais profundas de soberania nacional, como é o caso das instituições militares e de informação. Nada nos garante que nas suas actualizações constantes de software a Microsoft ou outra qualquer multinacional não resolva olhar para uns quantos segredos de estado de forma a ganhar mais poder nesse país. Neste sentido o desenvolvimento com base livre tem dado já os seus frutos e exemplo disso é a Estremadura espanhola que criou um Sistema Operativo que usa nas escola, instituições públicas e distribui aos cidadãos versões actualizadas como se de um serviço se tratasse, poupando milhões de euros, melhorando a produtividade e incentivando à informatização de toda a sua área. Neste enquadramento, a Estremadura é a Comunidade que registou o crescimento mais intenso na economia Espanhola em termos reais, tendo reduzido também a despesa em tecnologia em cerca de 30 milhões de euros.

Com os recentes desenvolvimentos das notícias e a eventual criação de um nova secreta, á margem do nosso parlamento, por parte do actual Governo, deixa uma interrogação: Que bases de dados dos cidadãos estão a ser criadas e qual o suporte informático utilizado? Não será este plano tecnológico, apenas uma parte visível de um plano de entrega dos nosso serviços ao capital estrangeiro? De acordo com a "Visão", o objectivo final, desta secreta, já delineado, passa, a médio prazo, pela fusão das três actuais secretas, as duas civis (SIS e SIED) e a militar (DIMIL - Divisão de Informações Militares), num único serviço de informações. Julgamos que o software utilizado será todo da Microsoft.

Assim sendo, reafirmamos que o Plano Tecnológico, e agora temos a confirmação disto, tal qual vem sendo definido ao longo do tempo, é completamente descabido e não tem em consideração o verdadeiro estado da nação. Mas sim, serve os interesses de meia-dúzia, como já se tinha visto anteriormente. Mantemos a posição convicta de que é através de um desenvolvimento livre e sustentável que a tecnologia se desenvolve e não segundo as ideias monopolistas e ilegais de uma qualquer empresa. Aproveito para convidar a visitar a visitar o sitio europeu para o desenvolvimento livre: www.fsfeurope.org .


Referências:

(*1) http://museum.sysun.com/museum/althist.html

(*2) http://www.microsoft.com/billgates/speeches/2006/02-01GLFEurope.asp

Sem comentários: